No caso Esmeralda, não surpreende a vergonhosa cobertura jornalística. Não choca a inconsistência dos argumentos invocados a favor do putativo pai adoptivo e a segregação mediática do pai biológico. Não espanta a facilidade de uma condenação, na praça pública, sumária e in limine de Baltazar. A inconsistência das razões que, alegadamente, fazem dele um facínora sem igual.
Nada surpreende. Pois tudo se desvanece na mais pura constatação da espuma dos dias mediáticos. É mais um exemplo a confirmar a infeliz regra.
Agora, o que dá lugar à estupefacção é ver uma panóplia de personalidades que preenchem a vida pública nacional, gente com responsabilidades, a diversos níveis e em diversas áreas, entre as quais, Maria Barroso, Manuela Eanes, Maria José Nogueira Pinto, Bagão Félix, entre muitos outros. Ao subscreverem o pedido de Habeas Corpus, branquearam toda a campanha que, até esse momento, estava a ser levada a cabo. É penoso constatar semelhante frivolidade. A superficialidade, o pouco escrúpulo colocado num caso em que estão em causa sentimentos. E não se diga que a incomensuravelmente injusta condenação a uma pena de 6 anos do pai adoptante, justificaria tal clamor.
O circo mediático foi montado e, por ninguém, nunca desmontado.
Todos aderiram por impulso, por poluição jornalística. Bastaria uma atenção mínima, um olhar mais cuidado para constatar que tudo não passava da mais torpe encenação.
O que releva, bem no fundo, é que, como na tragédia clássica, aqui todos parecem ter errado e todos parecem ter razão. Simultaneamente.
Pena é que no meio do fogo cruzado tenha permanecido o único inocente: neste caso a demanda por Justiça de uns, transformou-se na torpe injustiça de um, de uma só criança.
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