sexta-feira, dezembro 29, 2006

O deputado Melo, o CDS e, já agora, Paulo Portas

Uma vez mais o CDS passou o Natal nas bocas do País político. Poderia ter sido por boas razões. Mas não foi. Aconteceu porque o Sr. deputado Melo não se sente vinculado à instituição CDS, antes se sente saudoso de um projecto que foi protagonizado por Paulo Portas. E digo foi, porque esse projecto morreu. Morreu quando o ex-Presidente Paulo Portas o quiz matar, na sua interpretação pessoal do resultado eleitoral mais recente. E digo morto porque qualquer eventual regresso de Paulo Portas à presidência do partido representará um novo projecto que ainda não conhecemos. Eu não sou sebastianista, sou muito pelo contrário um institucionalista.

O Sr. deputado Melo, manifestamente não é um institucionalista e se não é sebastianista, parece.

Infelizmente a questão não se esgota aqui. O Sr. deputado Melo não se coibe de expressar o seu sebastianismo portista em público, em momentos de significado partidário. A direcção, pelo seu lado, não se inibe de expressar publicamente os seus receios desse sebastianismo que ainda grassa profundamente no partido, que mais não seja quanto à diferença de estilo, nem muito menos de demonstrar a sua frustração com a situação actual: não tem meios nem capacidade para exibir coesão com o grupo parlamentar. Seria rizível se não constituísse prova da irrelevância do actual CDS. É pena e pode vir a ser dramático.

Do que quero falar é da origem deste problema. Sempre me fez confusão os encómios com que em geral se acolhem as decisões dos líderes partidários que, na sequência de um mau resultado eleitoral, se demitem. Em Portugal essa atitude é aplaudida como demonstração de um grande sentido de responsabilidade. Eu não acredito nesse Portugal.

Porque manifesta um total desprezo pelos resultados eleitorais. Quem se demite dá maior relevo aos votos que não recebeu do que aos que acreditaram em si e nele, ou melhor no Partido, votaram de facto. Ou seja, porque manifesta um total desprezo pelos eleitores. E já agora, pelo partido. Um comandante não abandona o navio em dificuldades. E se tiver de o fazer, deverá ser o último a fazê-lo - isto é, depois de terem sido preparadas as condições de renovação da equipa, incluindo o grupo parlamentar. Os resultados do contrário estão à vista.

Entendo que um Presidente que leva o CDS a votos deve permanecer no barco pelo menos até poder preparar a sua própria sucessão, tranquilamente. Para mim isso significa enfrentar a maior parte do mandato recebido. Digamos, até um ano antes das eleições seguintes. Nessa altura, o partido deveria ter oportunidade de escolher entre o líder que não obteve os resultados que desejara, mas que desempenhou o mandato recebido no melhor do seu esforço, e eventuais outros projectos que se possam apresentar em concorrência. Mais, creio que o líder anterior se deve, por obrigação moral, apresentar a votos em congresso. Deve explicar o que aconteceu, porque é que isso sucedeu e quais são as vias de evolução que propõe. E deve ser confrontado com explicações alternativas e projectos concorrentes que possam permitir a evolução desejada.

A não ser assim, como não foi no caso do CDS, o que os derrotados deveriam fazer era assumir o silêncio, pelo menos publicamente, que mais não seja por respeito por quem aceita substituir o líder demissionário em condições de navegabilidade adversa. E, eventualmente, preparar alternativas internas, a apresentar em momento oportuno - isto é, porventura um ano antes de novas eleições. Em segredo. Sem necessidade de protagonismos bacocos e esvaziados de conteúdo que só servem para alimentar uma corda de jornalistas que julgam que a política é o jogo dos corredores partidários. Sem prejudicar os calendários de potenciais líderes. Sem prejudicar a instituição e os seus dirigentes legítimos. Sem ser conivente com jogos de bastidores de putativos líderes. Sem ameaçar com calendários próprios, do tipo "depois do referendo é que é" (já agora, poderiam acrescentar, depois da responsabilidade da derrota no referendo ficar para outros - pode ser que tenham uma surpresa; pode ser que o povo democrata-cristão não ande a dormir...).

Pela minha parte, ando a trabalhar nas alternativas. Em segredo, para já. Oferecendo a minha leal colaboração à direcção, até lá. O futuro de Portugal assim o exige.

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