Insurgiu-se o P.S.D. contra o debate do Prós e Contras sobre o Orçamento de Estado. E bem. Porquê? Porque a par de Teixeira dos Santos e Daniel Bessa, foram convidados para o nim e para o não ao orçamento, Medina Carreira e Octávio Teixeira, respectivamente.
Pergunta-se: qual o critério usado pela RTP nesta escolha? Dos vários pontos de vista que se alcancem, nenhum justifica a ausência, no debate, de um representante do maior partido da oposição.
Aliás, a indignação social-democrata devia dar lugar a uma indignação geral dos partidos políticos, independentemente do acerto e da vantagem que daqui possam decorrer para as agendas de cada um. De facto, este esquecimento, é mais sintomático e profundo do que aparenta. Não se cuida, aqui, só de sublinhar a desconfiança sobre a Direcção de Informação do canal público e o escândalo perante uma aparente manobra de governamentalização. Se em tudo isto há uma cabala ou não, desconhecemos, mas lá que parece haver, isso parece...
Contudo, o que, sobretudo, importa destacar é o método (caso o haja) ou o busílis da escolha. Qual o motivo, pois, de não trazer para o programa alguém que, num debate, eminentemente, político, represente o maior partido da oposição, e todas as restantes forças presentes no arco parlamentar?
A leitura possível dos factos leva-nos a uma sórdida constatação: para um debate que se pretende sério, esclarecedor e substancial, convida-se quem assim se reputa. Portanto, um cidadão imparcial - Medina Carreira.
Em última análise, temos pois, que a oposição tida por credível não é a dos políticos. É a oposição cívica. É, de facto, nesta evidência que se manifesta um sinal mais profundo e mais gravoso. A perda de credibilidade dos actores principais da Democracia. Daí que se o facto, de per se, não ultrapassa a espuma dos dias, revela um sintoma bem mais inquietante. Traduz uma tendência, aliás, comum às democracias ocidentais, que é a da sua paulatina perda de qualidade.
Tanto o surgimento de movimentos de cidadãos - por muito que enriqueça a participação - mas sobretudo o ascender de personalidades assépticas (leia-se independentes, honestas) à contaminação política, é o despontar de uma crise que está a dilacerar o âmago do nosso sistema democrático. E vergonhoso é ver que alguns dos seus actores, por meras conveniências de tricas político-partidárias, usem, conscientemente, este sintoma para lhe retirarem uma espúria vantagem circunstancial. Resta-nos a sibilina ironia de que quem com ferros mata...!
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