Por uma série de coincidências que seria fastidioso enumerar, a verdade é que nos últimos tempos tenho vindo a acompanhar, esporadicamente e de soslaio, a novela da TVI das ... nem sei bem a que horas, porque aqui no centro da Europa vê-se a horas em que o sono já começa a apertar. Tenho-lhe prestado atenção porque há um assunto cujo tratamento me intrigou, inicialmente, e agora me entristece e alerta para o trabalho que há a fazer para recuperar a Nação para uma normalidade há muito perdida.
Trata-se da vocação de um jovem para o sacerdócio. Situemo-nos. Os pais do rapaz praticam swinging (para quem não sabe, vão os dois para a cama com outros, ao mesmo tempo, e voltam para casa juntos, considerando que "amor é voltar para casa juntos" - depois de praticar sexo com outros, claro!!!). Obviamente que compreendem a vocação do rapaz com uma atitude semelhante à que teriam se ele lhes anunciasse que se ia injectar à frente deles. O rapaz tem amigos, em especial uma amiga. Esta está disposta a tudo para o levar a ser feliz. O que, naturalmente, significa não ser Padre. Ah, também há um guionista. Este não aparece, mas também já informou como é que ia resolver o problema; eu sei, porque o pai do rapaz já o disse: a única solução é o rapaz apaixonar-se. E sei que o guionista sabe, porque já nos apresentou uma rapariga discreta e aparentemente apoiante do rapaz, que está apaixonada por ele e sofre muito; não há candidato a padre que resista a tanto sofrimento, é claro. Entretanto, organizaram uma festa para o rapaz ser baptizado; parecia um velório, pese embora, pela primeira vez - das que eu vi, perdoem-me - o rapaz ter aparentado felicidade quando fazia os seus votos de novo cristão. À sua volta, os pais cruzavam olhares como quem via o filho a correr desesperadamente para se atirar do cimo do Cristo-Rei. Os amigos, em especial a amiga, faziam ar de quem não compreendia o que se estava a passar, nem tinham a certeza de ter tido uma boa razão para pôr o fatinho de domingo.
Enfim, para além do caricato da cena, ou das cenas, o que assusta é a pobreza intelectual e o desconhecimento - questão de cultura geral, pensaria eu - dos variadíssimos argumentos que poderiam ser esgrimidos a propósito de uma vocação como esta, num tempo como o nosso. Parece que esgrimir argumentos poderia ser perigoso, poderia acontecer que as pessoas se pusessem a pensar e até, oh, inimaginável, porventura haver algumas que concordassem com a liberdade de uma pessoa escolher uma vocação diferente. Não, é muito mais seguro assumir que as pessoas não compreendem esse tipo de opção e portanto tratá-la como algo de anormal e suspeito.
Ah, se ao menos o rapaz quisesse ser homossexual!! Ou então se o fosse e quisesse ter o direito de "casar"!! Então tudo seria mais fácil, os argumentos mais naturais, toda a gente compreenderia e se identificaria!!
Meu Deus, Tu que És Pai e infinitamente Misericordioso, Perdoai-lhes porque não sabem o que estão a fazer!
E nós, não nos enganemos. É contra esta acefalia dominante que é preciso combater. É este o combate de quem queira um Portugal diferente: desfazer os mitos da animalidade consensualmente defendida. Devemos obrigar-nos a agir para ajudar os outros a poderem pensar.
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