Nas férias que se acabaram, um dos temas presentes e pungentes foi a guerra israelo-libanesa e, uma vez mais, assistiu-se ao desenrolar dos velhos argumentos e argumentários sobre Choque de Civilizações. As inquietações sobre a fonte, a matriz dos grupos Terroristas, tipo “Partido de Deus”, sobre as células de fundamentalismo religioso existentes na Europa, sobre o móbil que leva jovens de segunda geração, criados em famílias perfeitamente integradas (aparentemente) a rebelarem-se, a surpresa e perplexidade de familiares e vizinhos, sobre tudo isto, e muito mais, se discorreu. E, claro, como não podia deixar de ser, leu-se, com olímpica abundância, o pudor Ocidental em assumir as suas afinidades culturais e os seus valores. Todos os dias ouviu-se a auto-flagelação, masoquista, de comentadores, fazedores de opinião e, para variar, dos próprios jornalistas. Implícito nas suas palavras está sempre o anátema da superioridade Ocidental, seja ela económica ou militar, o ascendente da civilização judaico-crsitã sobre o Mundo. Uma culpa que temos, inexoravelmente, que carregar e arrastar por muitas e longas décadas...um grilhão!
Mas voltemos ao que importa. De facto, uma sociedade multicultural é uma sociedade onde, pressupõe-se, convivem várias culturas, várias mundividências, várias nações, várias religiões. Ora, é aqui que reside o vício. Na actualidade sociedade Ocidental ( e quanto a isto não há que ter remorsos, as coisas são como são) não convivem várias culturas, mas vivem simultaneamente. Como bem observou Júlio Machado Vaz, numa entrevista, a propósito de os bairros sociais no Porto estarem paredes meias com bairros residenciais de luxo, referiu que os seus habitantes : “cruzam-se na rua, mas não se tocam”. Ou seja, mutatis mutandis, a aparente integração das famílias de origem é uma miragem. Essas famílias vivem num quadro de referências próprio, muitas vezes suspirando pela sua terra prometida (região de origem), pelo tempo da infância, pelos costumes e tradições que lhes serviram e servem de referência. Não há que enganar, o quadro de valores e padrão da vivência familiar não é o da sociedade de adopção, mas o da sociedade original onde estas famílias surgiram.
Outras ponderosas razões subjazem, mas o que interessa aqui relevar é que este conceito de convivialidade entre religiões, nações e culturas, dado pela Multiculturalidade, é um logro em si próprio. Esta convivialidade não existe. O fenómeno que se nos depara é antes de uma Policultura (ou, perdoe-se o neologismo, policulturalidade), uma coexistência, aparentemente pacífica, de várias culturas num mesmo espaço. Os seus membros até se cruzam, não nunca se tocam....
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