quinta-feira, abril 27, 2006

A Goleada

Como dizia José Mourinho, perder por 1-0 é uma goleada.

Eu também não gosto de perder. Mas, independentemente do resultado, julgo que vale sempre a pena ter como regra a permanente busca do sentido das coisas. É a busca não do sentido “teológico”, mas do sentido prático e útil de todos os fenómenos. O raciocínio, digo eu, deve ser sempre este: “isto faz sentido que assim seja?”

Envolvi-me nas recentes eleições para delegados ao congresso do CDS, e perdi. Sem querer deslustrar a vitória do André Noronha (que é totalmente alheio ao juízo que vou fazer), acho que vale a pena pensar se faz sentido o actual mecanismo eleitoral.

A lista em que me empenhei teve cerca de 1/3 dos votos, e a lista da distrital do Porto (organizada pelo Álvaro Castelo Branco) teve cerca de 2/3 dos votos.

Acontece que
1/3 dos votantes não são do CDS mas da Juventude Popular ou da FTDC (Federação dos Trabalhadores Democratas-Cristãos). Fruto de acordos ou protocolos antigos, estas organizações têm direito a indicar como votantes uma percentagem do caderno eleitoral. Por exemplo: o caderno eleitoral do CDS no concelho do Porto tem 1.800 militantes, o que dá nomeadamente à Juventude Popular o direito a indicar 180 votantes (10% do caderno eleitoral).

Nas eleições para delegados do concelho do Porto registaram-se aproximadamente 225 votos. Desses, 75 (1/3 dos votantes) não tiveram origem no CDS, mas em organizações autónomas. Ou seja, votaram 150 militantes do CDS Porto (de entre um caderno eleitoral de 1.800...).

Este desequilíbrio verifica-se em todas as eleições internas (para concelhias, distritais, etc.). Cerca de 1/3 dos votantes nas eleições internas do CDS pertence a outras organizações.

Tem sentido?

Para além de não ter sentido, distorce a lógica de funcionamento de um partido.

Distorce também a lógica de funcionamento da Jota. Eu defendo uma Jota sonhadora, portadora de ideias e portanto de cariz essencialmente idealista. E há princípios que deviam ser intocáveis, para sua própria defesa. Na Jota, quem é assessor político não devia ser dirigente, e quem é dirigente não devia ser assessor político. A Jota tem uma função, um sentido, que não se confunde com o do CDS. Por isso, o seu é um sentido único, e contrariando esse sentido a Jota entrará por um sentido proibido.

Outra análise é a seguinte

Vamos admitir - numa assunção que me parece certa e honesta - que todos os votos da JP e da FTDC tiveram o mesmo sentido (o que me parece razoável em face do quadro dirigente local): a lista organizada por Álvaro Castelo Branco.

Dentro do quadro estrito de militantes do CDS a diferença de votos entre as 2 listas foi de 5 votos.

Há que concluir que foi o pior resultado de sempre do ACB, e que corresponde objectivamente ao fim de um mito: o de que ACB tem com ele os militantes do CDS do Porto.

Eu sei quem vai levar a próxima goleada...

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