Eça de Queiroz é sem dúvida alguma um dos maiores senão o maior escritor português de todos os tempos.
É certo que nunca lhe foi atribuído o prémio Nobel da literatura mas também depois de ser atribuído a José Saramago julgo que o própria Eça o recusaria.
Eça, infelizmente, já partiu mas se por cá ainda andasse muito mais literatura teria produzido para nosso gaudio e prazer,pois, nos tempos que correm e com alguns políticos que por cá andam, a fonte de inspiração é, diria, ilimitada.
Não tenho nem a arte nem o engenho de tão distinto escritor mas, para quem a tenha sugiro que adapte a uma peça de teatro ou para um filme alguns destes momentos mais "enternecedores".
Título : As Traquinices de River
Local:Porto
Cenário: Urbano - Túnel/Buraco
Tipo: Comédia Trágico Dramática
Take 1 - River juntamente com outros igualmente iluminados resolve alterar projecto de túnel e prolonga a saída do túnel para a frente da porta do Museu Soares dos Reis.
R: Oh Arquitonto chega-me aí uma folha de papel branco.
R. pega numa caneta e faz desenho.
R: taz a ver Arquitonto vai-se fazer assim.
Arq: Mas assim o túnel saí em frente da porta do Museu.
R: E qual é o problema. Também quem é que quer ir ao museu? Ninguém.
Arq: Mas, e não se consulta o IPPAR. Olhe que a lei obriga-nos a pedir parecer.
R: Na minha cidade quem manda sou eu. E esses tipos do IPPAR só chateiam.
Temos de nos despachar para a obra ficar pronta para as autárquicas. É que se nem o túnel fazemos não tenho mais nada para mostrar.
Take 2 (passados alguns meses)
IPPAR/Museu perguntam-se: Onde é que será que este túnel vai acabar??? E, está mesmo junto ao Museu?? E ninguém nos consultou?
IPPAR/Museu: Ó Sr. R. que coisa é esta de fazer um túnel junto a património nacional sem nos consultar.
R: Já decidi e está decidido!
IPPAR: Mas não será melhor analisarmos e ver-mos a melhor solução?
R: A melhor solução é a que já decidi e está decidido.
IPPAR: Está Sr. Ministra. Seria possível dialogar com o Sr. R. para ver se arranjamos solução para o túnel.
Ministra: Vou já tratar disso. Com as autárquicas à porta aquele túnel não pode ser feito.
Take 3
Minstra: bla bla bla bla bla bla blabla bla bla bla bla bla
R: não faço não faço não faço, bem feita bem feita
Ministra: pesangas...assim não vale. Vou dizer ao meu PM.
PM: olha se o R. amuou já sabes que não há nada a fazer. Tens de chamar a polícia.
Ministra: Ó Srs. IPPAR façam queixa ao MP.
Take 4: (volvidos mais alguns meses)
R É chamado ao MP e constituido arguido por prática de um crime público.
Logo à saida do MP.
R: Não há problema só fui constituído arguido. A M. é que é batoteira e não sabe "brincar". É sempre a mesma coisa e depois chama a polícia. O que interessa é que eu ganhei. Ganhei! Ganhei! Ganhei!
Mendes: Muito bem River. Assim é que é!!! E essa coisa de de teres ficado arguido não tem qualquer problema.
Arguidos somos todos nós! Até eu sou arguido.
M: Pronto pronto fazemos como tu queres mas em contrapartida deixas-em brincar a mandar na casa da música.
R: Tá bem. Combinado.
IPPAR: Mas...mas... e o túnel fica a sair na porta do Museu???
M: Tou farta disso do túnel. Já não tem piada nenhuma.
IPPAR: Mas e as consequências para o Museu? As ilegalidades? A solução?
M: Já disse deixem-me e acabem com essa história da polícia.
IPPAR: Mas nós não podemos deixar fazer tamanha barbaridade. Nós temos responsabilidade. Se há ilegalidades elas têm de ser vistas pelo MP. Se não for assim nós vamo-nos embora.
M: Então vão!
IPPAR: Técnicos demitem-se
Fim
Notas:
1- Os nossos autarcas, de uma maneira geral, julgam-se acima da lei e perante a mesma não hesitam em desrespeitá-la.
2- Curiosamente R. desrespeitou a legislação e o embargo mas quando toca a terceiros é o primeiro a exigir dos serviços da Câmara que se socorram de todos os mecanismos legais para fazerem cumprir os embargos por si decretados.
3- R. foi constituído arguido pela prática de um crime grave e que é ainda mais censurável quando praticado por alguém no exercicio de funções públicas.
4- É certo que R. ainda não foi condenado mas a constituição de arguido não é algo de tão banal que não mereça qualquer preocupação.
5- As declarações de Marques Mendes são o pior de toda a história - "Arguidos
somos todos nós!". Ó Sr. Mendes eu não sou arguido e não me consta que ninguém da minha familia algumas vez o tenha sido.
6- A solução de compromisso politico que a Ministra/ IPPAR e R. arranjaram é vergonhosa.
7- A cidade e o interesse público perdem (uma vez mais).
8- Os técnicos do IPPAR foram os único que durante todo o processo tiveram um comportamento correcto e digno.
E, ao demiterem-se deram "uma bofetada de luva branca"
Espero que os demais interlocutores tenham ao menos a sabedoria de apreender e aprender com a referida bofetada.
a bem da Nação!
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