Amo a cidade do Porto. Aqui nasci (em Cedofeita, mas registado em Nevogilde, freguesia onde os meus pais moravam, em 1964) e vivo há quase 42 anos. Tirando o Brasil, onde me desloquei (sempre estadias curtas) durante cinco anos para dar aulas, trabalhei sempre no Porto e ao serviço de grandes empresas. Tive sorte. Infelizmente, nem todos tiveram essa sorte. Ao contrário de outras pessoas, não consigo, nem quero justificar porque gosto da minha cidade. Está cá dentro. No meu coração. Mas sei que é um sentimento partilhado por milhares de anónimos que aprenderam a amar a sua cidade. Os invejosos chamam-lhe bairrismo. É um adjectivo. Apenas isso. Não vale a pena perder tempo a explicar o que se sente. E aí está a grandeza da nossa relação com esta cidade. Mas, só o sentimento não chega. É preciso, cada vez mais, gritá-lo. Bem alto! Chegou o momento…
Tinha 10 anos quando aconteceu o 25 de Abril. Não tinha memória, nem positiva, nem negativa (graças a Deus, pois só com o tempo comecei a entender o valor da liberdade de expressão) do antigo regime. Considero-me um "filho da democracia", o que me faz ter uma distância saudável do pensamento de Esquerda (reinante nos que têm voz em Portugal e também em alguma Europa) e do de Direita (se é que ele se manifesta). Recusei sempre qualquer filiação partidária. Como disse, em 1991 (?), ao engº Carlos Brito (pessoa por quem tenho grande admiração)"Primeiro, quero ser Homem e, mais tarde, quem sabe?". O mais tarde ainda não aconteceu. Ao longo destes 30 anos, assisti à chamada alternância no poder do PS e do PSD. Cheguei a empolgar-me com as maiorias absolutas do PSD, pois acreditei que o meu país ia mudar. E mudou. Tenho de reconhecer isso. Mas, passados 30 anos, o resultado, sobretudo para a minha cidade, é muito fraquinho. Os sucessivos governos (e a autarquia, claro!) até podem ter feito algumas (poucas) coisas positivas (metro, Serralves, Casa da Música, requalificação urbana, modernização da Universidade do Porto), mas os resultados oficiais estão à vista: desemprego, perda de influência, falta de oportunidades, perda de competitividade, perda do poder de compra. Estas tristes realidades fazem do Porto uma excelente cidade para criar os nossos filhos e para morrer tranquilamente. No entretanto, existe Lisboa. Se a crise existe, ela está no Porto. E é estatística. Ou seja, oficial. Há dois anos, tínhamos o Mourinho para nos distrair e para nos dar algum orgulho perdido. Agora, nem isso! Não temos desafios. Não sabemos bem o que queremos. Estamos quase adormecidos. Sem esperança. Sem projectos. Revoltamo-nos todos os dias nos cafés, nos restaurantes e nas ruas, mas recolhemos em silêncio. Estamos à espera do nosso D. Sebastião. Onde está a massa crítica da cidade? Ou foi para Lisboa ou vive feliz (ou resignada) com o que já conseguiu. Ou, então, só se mobiliza para provocar o imobilismo em algumas obras importantes da cidade. Honra seja feita ao movimento gerado à volta do Coliseu. Até temos tido autarcas que se fazem ouvir, mas não foram capazes de se mobilizar pelo bem da região. Lutaram mais pelo seu "quintal", esquecendo a competitividade e a diferenciação. Perdemos as ligações directas do aeroporto do Porto para justificar a OTA. Ameaçam os investimentos nas nossas infra-estruturas. Perdemos um jornal centenário, num abrir e fechar de olhos. Perdemos o BPA que tinha tido um papel fundamental no apoio ao desenvolvimento de algumas empresas. Perdemos o Rali de Portugal/Vinho do Porto (ainda se lembram?).
E com ele foi-se perdendo a paixão que o Norte tinha pelo automobilismo. Não temos grandes investimentos previstos. Não se criam centros de competência,
Nem organismos públicos na região. Os que existiam ou perdem influência ou são transferidos para Lisboa. Até a nossa carismática pronúncia parece estar a desaparecer. Sempre ridicularizada por quem fala com "bués" e "muita" ou "ganda" disto ou daquilo. Até nas novelas, os nossos habitantes falam com o sotaque da capital!? Querem-nos transformar numa "delegação" de Lisboa. A tudo isto, os vários deputados eleitos pelo Porto assistiram e assistem, encolhendo os braços (manifestação tradicional portuguesa) e, em alguns casos, cruzando os braços. Em nome da disciplina partidária? Em nome do país? "Esquecem" quem os elegeu. E nós "esquecemo-nos" de os castigar. Até quando? Não temos de esperar até às eleições. Temos de, no dia-a-dia, mostrar a nossa indignação e tomar algumas atitudes. Nem que seja escrever para os jornais. Ou façam o seguinte em todas os domínios de consumo ou lazer, escolham os produtos ou empresas da vossa região. Assim, o PIB fica cá. Acreditem que um dia acaba por doer. E pode ser que passem a investir alguma coisa aqui. Ou, pelo menos, lembrarem-se que existem outras cidades. Nem que seja uma árvore de Natal (essa instituição bancária não tem sede no Porto?) na Avenida dos Aliados ou o Porto/Dakar. Sei que pode parecer ridículo, mas mais ridículo é cruzar os braços.
"Ousando, erramos às vezes. Não ousando, erramos sempre".
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