Hoje em dia, pelo menos em certos sectores, está na moda ser-se liberal puro. Toda a gente se atropela para (a)parecer mais liberal do que os outros, nas mais variadas matérias, tendo o fenómeno alastrado de tal maneira que deu origem a um verdadeiro fundamentalismo, embora totalmente "cool".
Como, normalmente, os arautos deste novo super liberalismo lusitano (não confundir com o neo-liberalismo tão querido de Soares e do Bloco) são inteligentes e até estudiosos, uma pessoa é levada a pensar se eles não terão razão: está descoberto o caminho para o paraíso liberal.
Concedo que muitas das teses e opiniões dos luso liberais são verdadeiramente sedutoras, digo-o com sinceridade, mesmo para um descrente conservador, como eu, mais ou menos liberal, nem sei.
O problema é que não me parece que se possa facilmente construir o "homem novo liberal" português começando pelo fim, ou seja, tecendo loas aos vários exemplos liberais mais expressivos que se vão vendo pelo mundo fora. Repare-se que vivemos num país onde estranhamente todos os candidatos presidenciais tiveram a mesma opinião sobre temas tão variados como sejam as apostas da betandwin, a composição dos orgãos sociais da EDP e o anúncio da PT e (quase) toda a gente achou bem. Estamos conversados quanto a liberais. Não estudo a matéria, longe disso, mas tenho a impressão de que os combatentes pelo liberalismo vão ter muito que penar. Não me parece possível criar uma sociedade liberal num ambiente hiper regulado, mas sem que se controle ou vigie a aplicação das leis, com mentalidades dependentes, pouco inovadoras e ambiciosas, que a tudo se sujeitam e com tudo se conformam e, sobretudo, sempre à espera do milagre salvador. Não dá.
Talvez, digo eu, vez de se ensinar o liberalismo às populações, que desconfiam dele, a aposta passe por construir as bases sem as quais não é possível existir liberalismo de espécie nenhuma. Desde logo, o Estado terá de se transformar numa pessoa de bem. Talvez se as regras forem claras e eficientes, poucas mas as fundamentais, com uma justiça a sério e uma regulação eficaz, podendo os indivíduos e as empresas viver e funcionar sem constrangimentos absurdos e defendidos da prepotência e da intervenção do Estado e do abuso de terceiros, as pessoas adiram à causa, mais tarde ou mais cedo. Só que, apesar da moda, que até é partidariamente transversal, não vejo passos nenhuns a caminho da sociedade liberal, bem antes pelo contrário. Haverá mais liberais se a sociedade evoluir e se modernizar e isso não se passa em Portugal.
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