sábado, janeiro 07, 2006

A Grande Cidade

Com grande pena minha, encontrava-me em Lisboa e não consegui chegar a tempo dos "Olhares Cruzados" da Católica, onde, segundo o resumo do Daniel Brás Marques e os comentários do Carlos Furtado, o Paulo Rangel retoma, desenvolve e teoriza a proposta apresentada já há algum tempo por Luís Filipe Menezes no sentido da fusão, a prazo, dos municípios (e respectivos concelhos) do Porto e de Gaia, formando, a norte, um grande pólo de atracção com capacidade de alavancar toda a região e de exercer, inclusivamente, uma influência que alcançaria a Galiza, com todas as vantagens daí decorrentes.
Sem regionalização -recusada em referendo-, seria esta a forma de se criar a norte uma estrutura com grande peso político e económico, com capacidade efectiva de contrabalançar o centralismo macrocéfalo da capital.
Esta unidade, um verdadeiro Portus-Cale como já se chamou na Antiguidade, poderá ser o objectivo mobilizador de que o Norte tanto anda carenciado, projecto galvanizante de uma população adormecida e entristecida desde os últimos anos do consulado de Fernando Gomes.
Não é que antes estivesse mais desperta. O Porto nunca teve grandes nomes à frente do seu município. A utopia visionária de Paulo Vallada, que podia ter sido um ponto de partida para a cidade, não teve continuidade. O primeiro mandato de Fernado Gomes, que nos inícios dos anos 90 tirou o Porto do marasmo e da apatia que vivia, foi seguido por um verdadeiro "establishment" socialista com um delírio final, no consulado de Nuno Cardoso, digno de um "western" à italiana. Só que a seguir, infelizmente, veio o cinzentismo total, a obsessão pelas contas a revelar-se como o grande desígnio da Cidade a somar ao facto de realmente o estado das contas não permitir grandes vôos.
Mas para voar são necessárias asas, e acima de tudo uma vontade ( e uma Idéia) que desde Ícaro não abandonou o Homem: a de sublimar a sua própria condição.
Se essa vontade e uma ideia muito concreta sobre a forma de pôr em prática essa vontade não existir, não há sonho que mobilize.
Já sabemos qual a ideia mobilizadora de Luís Filipe Menezes, agora retomada por Paulo Rangel. Ficámos também a saber, pelo JN de hoje, que esse nunca será o desígnio do Presidente da Câmara do Porto, para quem a grandeza dos problemas burocráticos e administrativos é um obstáculo inultrapassável à concretização dessa grande metrópole. "As duas Câmaras juntas apenas serviriam para aumentar a ineficácia, que é algo que existe permanentemente na Administração Pública e a improdutividade" dixit.
Ficámos a saber também que para o Presidente da Câmara do Porto, "a escala ideal de uma cidade, em termos de dimensão, situa-se abaixo da do Porto e acima da de Miranda do Douro", uma cidade de que gosta muito, ainda segundo o JN.
Depreende-se destas palavras que Trofa, Paços de Ferreira ou Paredes, sem desprimor para nenhuma das citadas e de algumas não citadas, devem ser o modelo ideal do Presidente da Câmara do Porto, o objectivo galvanizador da actual maioria.
Por mim, prefiro New York, Madrid, ou até mesmo Vigo....

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