O debate, no seu tom, não correu mal a Soares. Em Alegre pressentiu-se algum mal estar, talvez porque lhe falte, em lata, aquilo que sobra a Soares. De resto, um dos Debates desta campanha foi morno, mortiço, frouxo. Ambos denunciaram no adversário, a falta de uma convicção profunda para abraçar a Presidência da República. Vontade unicamente fruto da conjuntura política e dessa causa comum à Esquerda nacional que é impedir o passeio de Cavaco pela Avenida da Liberdade.
No entanto, regista-se uma característica subliminar ao pensamento subterrâneo de Mário Soares: a arrogância. Desde logo, desdenha da putativa “incultura” do candidato Cavaco Silva. Fonte de todo o mal, donde brota um factor incapacitante do exercício das funções presidenciais. Remete-o à condição de mero economista, um verdadeiro anátema, ou melhor, e como negou, uma verdadeira “captio deminutio”. E, adivinha-se, até, um preconceito social profundo – facto, de resto, muito glosado pela blogosfera. Já contra Alegre, a acrimónia surge pela insinuação de que o homem não tem experiência executiva. No fundo, pretende sublinhar - naquilo que não diz – que as posições do deputado são fruto de uma inconsistência leviana. Recorrendo a uma ascendência que a idade e o seu estatuto imprimem na relação com Alegre, tornou-o refém do passado de ambos. Já agora, valeria a pena perguntar : a Jorge Sampaio, conhecem-se-lhe funções executivas de eminente relevo?
“En passant” dir-se-ia que tudo são estratégias legítimas da luta política. Falso. Tais considerações só podem ser absolutas blasfémias da parte de quem se auto rotula de republicano e socialista Porque os argumentos são precisamente a contradição dos princípios e dos valores que Soares e a Esquerda propalam aos quatro ventos. Em vez de optar por uma postura magnânima – que só o engrandeceria – opta, conscientemente, pela leitura do desequilíbrio de forças, aproveitando-a e capitalizando-a a seu favor. E, assim, desdenha um franco e aberto debate de ideias, muito mais consentâneo com a sua reverberada preocupação com os interesses do país, e com a sua postura (pseudo)humanista. Tacticismo que, seguramente, lhe irá sair caro. Porque mesmo que não se perceba…intui-se!!!
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