Não deixa de ser curioso, na verdade, observar como tantas pessoas - algumas até inteligentes, outras expoentes do pensamento politicamente correcto e ainda outras simplesmente raivosas - não conseguem esconder a enorme alegria que lhes trouxe a destruição provocada pelo Katrina. Não cabem em si de contentes só porque, por uma vez, o alvo da fúria da natureza foi, nada mais nada menos, do que o império do mal. Alguns estão quase com vontade de dizer que foi castigo de Deus, mas graças a Ele ainda não perderam totalmente algum discernimento. Para esta corrente de pensamento, por cá muito vulgar, Bush, sim ele, é o único culpado da tragédia.
Bush não só não manteve o dique, como não previu correctamente a dimensão do Katrina, não avisou nem evacuou as pessoas, ou só evacuou os brancos (sendo que 70% dos habitantes de New Orleans são negros) e os ricos, não reagiu com eficácia e prontidão - estava férias, ele que passa as férias em casa e não num sítio exótico qualquer - e não solucionou ainda o problema.
A cegueira é tal que não há nada a fazer. O que tenho como certo é que, com Bush ou sem Bush, em nenhum outro país do mundo as coisas teriam corrido melhor.
Bush é tão responsável pela manutenção do dique como o Engº Guterres pela manutenção da ponte de Entre os Rios. A evacuação da cidade até correu de forma notável, dada a sua dimensão. Eu queria ver (soit disant) como é que na Europa nós evacuaríamos, em situações semelhantes, cidades como Lisboa, Valência ou Manchester e qual a predominância da cor das pessoas que lá ficariam. Esquece-se também, que organizar a logística de socorro numa área completamente devastada com a dimensão de vários "portugais" e com acesso exclusivamente por ar não é para amanhã. Não sei como acham que é simples, quando nós, em Portugal, nem sequer somos capazes de apagar um fogo ali ao lado. O engraçado disto é que muitos dos que se alegram hoje estavam incomodados com a rapidez com que o mesmo Bush correu a auxiliar as vítimas do Tsunami do ano passado, havia até quem achasse que a marinha americana não devia começar a prestar socorro sem que chegasse a ONU também (o que só viria a acontecer dias, ou melhor, semanas depois).
O anti americanismo leva a estes disparates. Ao menos, desta vez, o candidato Mário Soares está calado, o que só lhe fica bem e lhe poupa a triste figura.
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