quarta-feira, julho 20, 2005

As contas de Freitas do Amaral

A entrevista do MNE ao DN já deu pano para mangas. Começou ontem, hoje está mais forte e julgo que terá repercursões nos próximos dias. No entanto não quero deixar de também eu molhar a sopa. É que entre coisas acertadas, outras nem por isso e outras ainda que mais valia não ter dito, existe na entrevista um ódio, que não sendo escondido faz com que Freitas do Amaral nunca lhe cite o nome. Não dou prémios a ninguém, nem mesmo rebuçados.

"Não abro nenhum caminho a nenhuma especulação, estou muito bem onde estou, estou a fazer uma coisa que gosto muito. Desde a última eleição presidencial, que foi a da reeleição de Jorge Sampaio, que eu decidi e tornei público que não faria nada para uma candidatura presidencial. Não fiz diligências, não fiz iniciativas, não publiquei autobiografias, não convoquei jornalistas para conversar sobre o assunto, não fiz contactos com independentes, não me reuni com antigos governadores civis, não fiz rigorosamente nada. Portanto, salvo o devido respeito, parece-me que é excesso de especulação estar sempre a pensar que eu tenho esse objectivo escondido, quando a verdade é que eu não faço rigorosamente nada para atingir o tal objectivo. Há outros que o fazem, mas eu não faço e isso quer dizer que não estou empenhado na corrida às presidenciais"

E eu que pensei que as contas antigas com Cavaco Silva estavam todas liquidadas. Mas está bem de ver que não e Freitas só espera pela oportunidade.


Algumas vozes do PS, como Ferro Rodrigues e João Cravinho, consideram que a eventual eleição de Cavaco Silva para a Presidência da República pode colocar em risco a estabilidade política e a estabilidade desta legislatura. Concorda?
Sim. Eu acho que esse perigo, como perigo potencial, existe.

Porquê?
Porque se trata de uma pessoa de uma área política muito diferente, que faz as suas declarações públicas sempre em função dos pontos de vista da área política em que se situa, sem qualquer abrangência relativamente ao resto da sociedade portuguesa, e portanto é natural que não fosse propriamente um amigo do Governo PS. Há outra coisa, já agora, que me surpreende muito. É que estamos a cinco meses das eleições presidenciais, não há nenhum candidato assumido, é a primeira vez que isso sucede desde 1976, quando as coisas se passaram um pouco assim, mas estávamos no princípio da nossa democracia. Trinta anos depois, voltamos a estar assim. Se isso revela falta de interesse pelo cargo, é mau para o sistema político. Se revela excesso de táctica, é mau para a democracia, porque a democracia exige que uma eleição presidencial seja precedida de um amplo debate nacional, e não dum prolongado silêncio, destinado a criar as condições, não para uma eleição democrática e pluralista, mas para um plebiscito unanimista. Sob essa dupla perspectiva, eu acho que a situação que estamos a viver é negativa.

Ficamos pois a saber que Freitas não é de uma área muito diferente da do Governo. Nós já sabiamos é certo, mas assim está comprovado.

E fica igualmente claro que Freitas acusa Cavaco de ser o culpado por não haver mais candidatos. Como ele não fala, não fala mais ninguém.

Temos homem. Se Cavaco deixar é claro.

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