sexta-feira, abril 01, 2005

O testemunho

Nestas derradeiras horas, em que Sua Santidade luta contra a inexorável força de uma doença cruel, assistimos, incrédulos a um testemunho de uma dimensão humana sem par. Na paradoxal imagem da fragilidade de um homem de 84 anos, seriamente doente, recai uma poderosa imagem de vontade, força e de Fé. O poder que reside na doença e na pessoa do Papa, não seria possível em mais ninguém. Nenhum líder político, seria capaz de se enfrentar e de confrontar os demais com a sua própria condição de simples mortal.
Por isso a transcendência destes momentos é bem mais do que inspiradora. É um sinal, é um paradigma comovente da inabalável certeza de que há algo que nos ultrapassa. Há em tudo isto uma centelha de que esta força de viver e de se dar aos outros, não é, seguramente, deste Mundo.
O papel do Papa no desenlace dos acontecimentos políticos do séc. XX, será porventura um registo da sua importância enquanto um dos protagonistas da sua época. Todavia, ficará gravado, na memória de todos quantos assistiram ao exercício do seu múnus, o vigor das palavras, dos actos e da sua Fé inabalável. Sem cedências. Portador de um espírito missionário novo, levou o proselitismo mais longe do que alguma vez poderia ir, reconhecendo na humildade da sua tolerância, que a esfera do divino não se resume ao Mundo Cristão, mas a todas as manifestações do fenómeno religioso. Conseguiu assim ser um ícone do seu tempo, que transcende as fronteiras do mundo Católico. O diálogo inter-religioso é disso exemplo ímpar. Quem não recordará o homem frágil, de bengala, a dirigir-se ao Muro das Lamentações?
São imagens poderosas como esta que o elegeram aos olhos do Mundo como um símbolo. E, nestas horas, tão difíceis, consegue na prostração do leito, inspirar e elevar ainda mais alto a sua condição de homem e de filho de Deus. E com ele, todos nós...!

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