quarta-feira, março 23, 2005

Politica Externa e Questoes Pessoais

Os recentes episódios relacionados com o Ministro de Estado e dos Negócios Estrangeiros têm assumido contornos curiosos. Aviso, desde já, que não tenho particular admiração política pelo Prof. Freitas do Amaral, embora tenha participado activamente na campanha eleitoral contra o Dr. Mário Soares e não esteja nada arrependido disso. Trata-se de uma personalidade de elevados méritos e qualidades e julgo mesmo que o seu percurso é muito mais coerente do que aquilo que às vezes parece. Ele, na verdade, esteve sempre politicamente muito longe da sensibilidade média dos eleitores do CDS, que andaram iludidos durante algum tempo.
Dito isto, não deixa de ser interessante que as naturais interrogações de muitos sobre as opiniões do Prof. Freitas do Amaral em termos de política externa não sejam respondidas à conta de se tratarem de ataques pessoais. Desconheço as motivações do Dr. Paulo Portas durante o debate parlamentar, mas para quem vê de fora não há nada de singular, antes pelo contrário, que um deputado da oposição recorde ao Governo as posições anteriormente expressas por um ministro, tanto mais que a pasta em causa é de extrema relevância. De facto, estão longe de serem irrelevantes algumas das posições do Prof. Freitas do Amaral, designadamente no que diz respeito à participação de Forças Armadas portuguesas em operações de paz no estrangeiro ou à qualificação dos governantes do nosso mais importante aliado. Desviar esta discussão com o argumento de que se trata de ataques pessoais é fugir ao problema. O esclarecimento era, a meu ver, politicamente importante.
O Prof. Freitas do Amaral não achou assim e veio até justificar a intervenção parlamentar do Dr. Paulo Portas com o facto de este estar cheio de inveja pela circunstância de o Governo ter como ministros ele próprio e o Prof. Mariano Gago que, de acordo com o Professor, seriam pessoas que "os deixam esmagados". Não sei se o Dr. Paulo Portas se sente esmagado, mas quer-me parecer que quem deve estar esmagado com esta corajosa afirmação serão os restantes membros do Governo não referenciados, pelos vistos menos pesados, a começar pelo PM.

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