quinta-feira, março 31, 2005

O candidato do PS ao Porto III

Nestas alturas, é sempre bom recorrer à memória para ajudar a compreender algumas coisas. Por isso, é bom recordar que Francisco Assis foi o mais jovem presidente de câmara ao seu tempo de autarca em Amarante. É bom recordar que, ao seu tempo de autarca em Amarante, a pobre cidade lá foi definhando ao nível da economia e lá se foi 'enfeiando' com projectos miseráveis ao nível arquitectónico - que conseguiram esconder, para não dizer fazer desaparecer, a beleza antiga do burgo numa catadupa imparável de argamassas novas e betões indestrutíveis (patrocinados pelo grupo Mota-Engil, na altura Mota e Companhia). É bom recordar que Assis saiu de Amarante - deixando-a nas mãos de um canastrão de bigode, quilos a mais e escasso entendimento das modernidades - em demanda da ribalta da capital e das tropelias esconsas dos seus subterrâneos. É bom recordar que o senhor chegou a líder parlamenta - uma espécie de antecâmara da governabilidade - e, a partir daí, percebeu que tinha de desistir. É bom recordar que Assis teve a discernimento de perceber e de desistir. Quer isto dizer que o regresso ao Porto foi um passo atrás na sua estratégia pessoal - uma espécie de mal menor para quem sabe que não se é santo duas vezes no mesmo sítio. É bom recordar que, apesar de tudo, regressado ao Porto depois de expatriado de Lisboa, contou com um estado de graça que lhe permitiu ganhar o PS e que logo no dia seguinte o começou a perder por entre os dedos, num emaranhado de alinhamentos vertiginosos com a esquadra mais mafiosa da estrutura (Narciso, Orlando Gaspar, Fernando Gomes, Nuno Cardoso e a restante comandita de bafiosos, donos dos recuados das avenidas novas). É bom recordar, para que não andemos sempre a cair no mesmo disparate.
Neste momento, Assis deve estar a passar pelo mesmo dilema por que passou Rui Rio há quatro anos: se tem ou não alguma coisa a ganhar com uma aliança pré-eleitoral com o PCP e com o Bloco de Esquerda - tal como Rio hesitou até à última da hora em relação ao PP (e muito mal escolheu, como o próprio sabe nesta altura). Só é de esperar que PCP e Bloco percebam que eles próprios não têm nada a ganhar por se juntar a Assis e, por inerência, aos donos dos recuados das avenidas novas.

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