Com o timing ideal que lhe é costumeiro, o Presidente Jorge Sampaio está de visita à China. Em vez de ter preparado a visita enquanto decorria o período de adaptação da China ao comércio mundial (que só demorou dez anos), o senhor lá decidiu viajar depois de decorrida a fase de negociações. Nada de muito alarmante, uma vez que o sector dos têxteis e do calçado - o que mais está dependente das negociações decorridas nos últimos dez anos - também só agora se lembrou (em 23 de Dezembro passado) de se preocupar com o assunto. Só desde essa altura é que os senhores - ancorados pelas associações congéneres existentes na União Europeia - decidiram queixar-se das condições de trabalho existentes na China, que colocam em perigo os normais procedimentos da concorrência. O motivo do atraso é simples: até agora, os sectores europeu e dos EUA divertiram-se a deslocalizar as suas produções para a China (por via de investimento industrial ou meras encomendas), aproveitando-se do facto de, naquele país, os trabalhadores serem miseravelmente explorados e ninguém se preocupar em pagar segurança social ou outras aberrações (dizem eles) criadas pelo Estado providência - uma invenção muito decente das democracias ocidentais, quando democracia ocidental queria dizer qualquer coisa de decente, antes de ser corrompida pela estúpida tentação liberal. Agora que o prazo de aproveitamente acabou, os empresários andam numa roda viva, fazendo de conta que não estão preparados para a liberalização. São uns patuscos. O que não seria nada de grave, se não se desse o facto de terem nas suas mãos as vidas futuras de milhares de portugueses.
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