quinta-feira, dezembro 02, 2004

Marcel Duchamp

A "Fonte" de Marcel Duchamp foi considerada, por uma equipa de 500 especialistas mundias, a obra de arte moderna que mais influência teve. Deixando atrás de si a obra fundadora do Cubismo "Les Demoiseilles de Avingon", ou "Guernica", e bem assim o famoso "Díptico de Marilyn" de Andy Warhol.
Ironias o destino. Duchamp, "concebeu" a obra em 1917, e apresentou-a sob o pseudónimo de H. Mutt, numa mostra promovida pela "Society for Independent Artists". Resultado: a obra foi rejeitada. Duchamp, é considerado um dos artistas do movimento New Dada, ou Dadaísmo. Como tal pretendia revolucionar o conceito de arte: a arte é tudo aquilo que assim for designado. Daí que retirasse os objectos comuns e os reiventasse, atribuindo-lhes um determinado significado. O que pressupõe, claro, uma afronta às convenções do que era entendido, então, por arte. De facto, é o percursor da Pop Art e da Optical Art, da qual Warhol(Pop) foi um ícone maior. A concepção das latas Campbell's não anda muito distante dos conceitos de Duchamp.


"Fountain", Marcel Duchamp, 1917

Interessante e curioso é constatar que Duchamp, ao propor uma reinvenção dos objectos, faz tábua rasa dos valores de que partimos para apreendermos o Mundo. Ao realizarmos que os mesmos podem ter outras perspectivas, propõe um pensamento tremendamente subversivo. Isto é, induz uma meta-linguagem em que os pré-conceitos se revelam. Diria que a perspectiva Dadaísta de Duchamp, é uma transposição pictórica do niilismo a que Nietzsche chama de "transmutação de todos os valores". Tal não consiste apenas na sua modificação, mas no desaparecimento do "lugar" em que se situavam. Isto é, não consiste apenas na desvalorização dos valores supremos aceites, pois a ruína desses valores torna urgente a criação de novos valores que os substituam. É a negação da ordem social estabelecida, de todas as formas de esteticismo. Criando a aurora de um tempo novo. Em que tudo é livre do genético pré-conceito Cultural - no seu sentido antropológico. A arte subversiva de Marcel Duchamp, é pois, um elucidativo exemplo do pensamento de Nietzche.

Sem comentários:

Enviar um comentário