quarta-feira, dezembro 01, 2004

Cada um tem aquilo que merece

Nas penúltimas eleições presidenciais, Sampaio derrotou Cavaco Silva. A Esquerda, engolindo sapos e rãs, votou maciçamente no seu candidato e Cavaco, desgastado com 10 anos à frente de um executivo, não logrou alcançar a vitória. Pergunta-se: a vitória da Esquerda foi por convicção? Claro que não, foi um voto por exclusão. E o resultado foi que o país optou por escolher o até aí Presidente da Câmara de Lisboa. O cargo de maior relevo no curriculum de Sampaio.
Ora, Cavaco, além de ser alguém com um curriculum profissional e político raro, era uma personalidade incontornável da nação. E ainda o é. Pela seriedade, pela competência, pelo carácter, pela integridade, pelo estofo. Reconhecidamente, quer pela Esquerda quer pela Direita, um político muito acima da média. Contudo, as eleições rejeitaram-no. Preteriram-no por um político menor, sem envergadura, sem rasgo, sem "pedigree".
Poderá parecer inverosímil, mas, seguramente, o carácter simbólico desta escolha, teve um efeito devastador na percepção da vida político-institucional. Permitiu que qualquer político, independentemente do seu curriculum, se arrogasse a qualquer lugar. Baixou, por isso, a fasquia. E ao criar este precedente tremendo, que hoje está à vista de todos, potenciou a degradação do nível dos políticos. No que veio a ser diagnosticado como a, agora, famosa Lei de Gresham. Estamos, portanto, numa situação de "U turn". E, pior do que não termos Primeiro-Ministro, é não termos alternativas. Sócrates é sinónimo de Guterrismo: e - sempre se diga - no seu pior!!! Ou será pensável, por exemplo, que um candidato a chefe do executivo venha socorrer-se de figuras tutelares - António Vitorino - para legitimar o seu discurso...?!
Na verdade, assistimos hoje às consequências de uma degenerescência do sistema político, cuja causa profunda reside no objectivo único das máquinas partidárias: ganhar eleições a qualquer preço. O que acabou por inquinar as opções do eleitorado. E o momento simbólico, na nossa jovem democracia, em que tal facto se verificou, foi a imerecida e injusta vitória de Sampaio contra Cavaco.
Pois é... quem semeia ventos...!!!

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