Após algum tempo de hesitação decidi aceitar o convite e passar a escrever no Nortadas. Considero este espaço como um meio para exprimir algumas reflexões, fazer alguma participação cívica e discutir os mais variados assuntos. Também nesta altura não posso deixar de esclarecer que apenas me responsabilizo pelas opiniões que assino, pois já vi neste blog várias dissertações de que discordo por completo.
Mas hoje quero essencialmente chamar a atenção para a entrevista de Luís Braga da Cruz ao suplemento económico do Público (29 de Dezembro de 2003). O ex-presidente da comissão de coordenação da região norte deixa algumas pistas essenciais para a reflexão do país que queremos. Entre várias afirmações salienta a necessidade de legitimidade política para os novos modelos de descentralização, demonstra preocupação pelo facto de no Porto não se proveitar uma população universitária de 20 mil estudantes, expressa espanto pelo esquecimento das faculdades de medicina ou de engenharia que se encontram entre as melhores do país, e afirma mesmo que a preocupação com, "os ciganos e com os arrumadores de carros" corresponde a um gasto de excessivas energias e euros, apenas beneficiando "a descoesão".
Esta entrevista independentemente de algumas ideias mais polémicas vem salientar a necessidade de uma verdadeira descentralização. Um país centralista apenas contribui para o seu subdesenvolvimento. Portugal não pode ficar impávido e sereno perante estudos de acordo com os quais daqui a dez anos 70% da sua população estará em duas áreas metropolitanas (Lisboa e Porto). Mas o pior é que 45% estará em Lisboa. Não é possível aceitar como algo inevitável que "Portugal é Lisboa e o resto é paisagem".
O nosso Estado deve ser composto por mais que um centro e deve ter uma rede de cidades médias com população e qualidade de vida. É preciso encher o território e para o fazer as várias cidades têm de ter universidades, escolas, equipamentos culturais (e não apenas estádios de futebol), e hospitais. Para que isso seja possível é preciso ter uma ideia do país como um todo e transferir competências do Estado central para as suas autarquias.
Mas para além disso é preciso que as várias regiões assumam um projecto. Por exemplo é interessante saber qual deve ser o futuro do Porto. Entre o bairrismo e a política de bairro, há outras opções. O Porto tem de se tornar num centro de trabalho, não se pode ficar com uma postura de passividade a assistir à "viagem" de parte do poder económicio para a capital. O Porto tem de recuperar peso na comunicação social, como forma de poder mostrar os seus vários protagonistas. O Porto tem de criar centros de actividade para os seus investigadores universitários. O Porto tem de assumir vida cultural e chamar aos seus palcos os mais variados protagonistas. O Porto tem de fazer um discurso pela positiva, sem provincianismos, ou simples posturas de bom aluno. Um Porto com estas preocupações, com uma aposta na divulgação dos destinos turísticos ligados ao vinho do Porto, com uma política de transportes inter-modal será sempre o polo de uma região que conta de facto e constituirá o primeiro exemplo para que Portugal se possa desenvolver como os seus parceiros europeus.
Há nos mais variados sectores sociais protagonistas para levar para a frente este projecto, basta que não se perca muito tempo. Será em 2004? Por agora... resta desejar um bom ano novo.
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